Ana Silvia Bloise, museóloga |
Desde o início da
minha vida profissional acompanho a criação e trajetória de museus de pequeno
porte. O diferencial desses museus se dá em primeiro lugar pela sua inserção
social, não tanto pela quantidade ou qualidade de objetos do acervo. Tal
constatação me leva a crer que bons museus são museus úteis aos seus diferentes
públicos.
Quais seriam esses
diferentes públicos, em primeiro lugar?
Amigos dos museus,
Estudantes
universitários,
Famílias - em busca
de lazer e/ou oportunidade para educação dos seus filhos,
Formadores de opinião,
Jornalistas,
Grupos de estudantes
do ensino básico e regular,
Grupos de turistas
(turismo da natureza, turismo regional, religioso, internacional, de negócios e
eventos),
Pesquisadores – para
pesquisas de TCC, mestrado, doutorado, artigos acadêmicos.
Por fim, pessoas que
já recebem alguma forma de atendimento na comunidade: idosos, deficientes, abrigados,
imigrantes, em tratamento médico ou psicológico, etc.
Penso que os museus
de caráter local ou regional devam se preocupar em tecer um relacionamento com
seus públicos. E transformar uma lista de públicos-alvo, como esta que
indiquei, em rostos, nomes e endereços, buscando estabelecer com cada um deles
um relacionamento efetivo, parcerias de longa duração, que resultem em trocas.
Conexão não é
sinônimo de comunicação. Conexão é o caminho da comunicação, sem o caminho a
comunicação não se estabelece, e esta troca não acontece. Comunicação é via de
mão dupla, exige o ir e vir da informação, do conteúdo, dos saberes. Se o Museu
não tem a humildade de se predispor a conhecer a realidade fora de seus muros e
paredes, ele não está conectado, estará falando sozinho e não terá sua
utilidade social evidenciada.
Museus desconectados
de seus públicos são museus sem função social, depósitos de objetos e de
pessoas - mesmo quando realizam ações nas redes sociais, por exemplo. O que
são tweets diários de museu sem curtidas, sem comentários e
sem retransmissão? Exemplo negativo de hiperconexão, do tipo que não estabelece
comunicação: Só servem para cumprir metas quantitativas.
Penso que o primeiro
dever do pequeno Museu é olhar e cuidar do seu jardim, para depois avançar para
cuidar também da praça, do parque, mais tarde da cidade e, (por que não?)
alcançar uma projeção no mundo.
Olhe primeiro para
quem vive ao seu lado, para aqueles que passam na frente da porta do Museu, e
que nem sabem o que lá dentro existe. Nós, profissionais de museus, sabemos o
quanto os museus podem ser interessantes, inovadores e estimulantes, e eles não
tiveram a oportunidade de experimentar ainda.
Acervo online é
para quem pode, não é para quem quer. A realidade é que a maioria dos pequenos
museus não tem conhecimento suficientemente consolidado para expor seu acervo
em exposição ou em reservas técnicas. Tour virtual em museu? Talvez seja outra
ilusão recorrente da hiperconexão. Para que servirá mostrar um edifício, salas,
vitrines e paredes, acompanhados de histórias e discursos que não trarão
público e, na maior parte das vezes, pouco esclarecem?
Portanto, cuidado! Está
na hora de analisar, de maneira mais crítica e profunda, sua política de
comunicação e desconstruir aquela ideia de que o bom Museu obrigatoriamente tem
que estar no Facebook, no Instagram, no Twitter, no site, no portal, no celular...
No entanto, se o
Museu tem uma equipe profissional, capacitada e atualizada, animada e,
principalmente, comprometida com o trabalho em função do(s) público(s), então
pode ousar se abrir para a hiperconexão e seguramente irá ampliar seus
horizontes!
Ana
Silvia Bloise
Museóloga
(*)
Artigo publicado originalmente na Revista Museu