Por
mais estranho que possa aparecer, a inspiração de uma artista pode surgir nos
momentos mais improváveis da sua vida, até mesmo depois de uma grande enchente.
Quando tudo parecia perdido, o desespero deu lugar à esperança e o lixo
reciclável que veio com a chuva, virou sonho de dias melhores. Aos poucos, tudo
foi se transformando e o que parecia dispensável, virou chapéu, colar, bolsa e
até peça de roupa.
Essa
história parece ficção, mas faz parte da vida da pernambucana Rejane Aleixo, 47
anos, nascida na Ilha de Itamaracá e crescida no sertão da Paraíba. Desde
menina foi muito curiosa e observadora, sempre de olho na mãe e nas tias que
faziam crochê. Não demorou muito, o conhecimento, adquirido naturalmente, se
transformou em sabedoria e ela não parou mais. Hoje, suas mãos fazem coisas
surpreendentes.
Rejane
mora no bairro Campos de São José, na região leste, com seus pais e sua filha.
Falante e participativa, a artista e sua obra são o centro da exposição
temporária Arte e Criatividade Popular, que será aberta neste domingo (10), às
14h, no Museu do Folclore de São José dos Campos. A mostra poderá ser visitada
até 9 de junho, de terça a sexta, das 9h às 17h, e aos sábados e domingos, das
14h às 17h.
Especial
Rejane
também será uma das atrações da edição especial do programa Museu Vivo deste
domingo. A atividade é realizada semanalmente pelo Museu do Folclore, aos
domingos à tarde, entre 14h e 17h, reunindo representantes da cultura popular
da região, nas áreas de artesanato, culinária e música. Durante este período,
ela estará à disposição do público para falar sobre sua sabedoria.
Rejane
usa, basicamente, dois materiais para suas criações: latinha de metal
(principalmente o lacre) e linha de crochê. Há quase três anos fazendo este
trabalho, ela conta que a peça onde mais usou material foi em um vestido
branco, que consumiu 3 mil lacres e já chegou a ser avaliado em R$ 3 mil, por
conta do tempo de serviço e da originalidade.
“Esse
vestido foi até para a passarela de um desfile realizado em um shopping de
Jacareí. Demorei quase três meses para concluí-lo, pois sempre faltava material
e como eu compro os lacres de catadores de lixo reciclável, nem sempre tinha a
quantidade toda em casa”, diz ela.
Culinária
Josefa fará tapioca |
A
cearense Josefa Vieira Gomes, 51 anos, chamada pelos amigos por Zefa, é
conhecida como uma cozinheira de mão cheia. E desde criança ela faz uma iguaria
que também é bastante apreciada na região. “Naquele tempo, o pão não era tão
disponível como hoje, assim a tapioca era o que fazia a vez. No sertão nós
comíamos muito jerimum, mandioca, inhame, este era o café da manhã da gente”,
conta Zefa.
Zefa
veio morar em São José dos Campos quando tinha 18 anos. Morou com a irmã no
Jardim Morumbi e desde 1989 mora no Campos de São José, região leste. No
domingo, no Museu do Folclore, ela vai relembrar, mais uma vez, um pouco da sua
história de vida ao fazer a tapioca que tanto gosta.
Música
Os violeiros Francisco Porfírio de Paula (73 anos) e
Angelino de Paula (61), de São José dos Campos, formam a dupla Miraí e Tanaí e
apesar dos sobrenomes idênticos, não têm nenhum parentesco, só mesmo uma forte
amizade. Neste domingo, a dupla também será uma das atrações do ‘Museu Vivo’.
Francisco Porfírio começou a tocar por prazer, pois
gostava muito de ver e ouvir o vizinho ao violão. Também sempre gostou de ouvir
rádio e quando já adulto chegou a tocar na Rádio Piratininga e Clube, mas nunca
se profissionalizou. Suas inspirações musicais são as duplas Tonico e Tinoco e
Belmonte e Amarai. Toca com
frequência no Espaço Cultural Casa Zé
Mira e está sempre presente no ‘Museu Vivo’.
Angelino aprendeu a tocar brincando, com uma viola
de taquara feita pelo pai, que era mestre de Folia de Reis e também fazia a
dança de São Gonçalo. Aos oito anos, ganhou uma viola de verdade e depois disso
não parou mais de tocar, já tendo se apresentado em programas de rádio de
Jacareí, Taubaté, Aparecida e Paraisópolis.
A dupla Miraí e Tanaí vão mostrar seus saberes na música |
Gestão
O Museu do Folclore de São José dos Campos é um
espaço da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, gerido pelo Centro de Estudos da
Cultura Popular (CECP), organização da sociedade civil sem fins lucrativos.
Museu
do Folclore de SJC
Av. Olivo Gomes, 100 – Parque da Cidade – Santana
(12) 3924-7318 – www.museudofolclore.org